Oração: encontro pessoal com Jesus


A vida de Teresa de Jesus (Teresa de Ávila) é pautada pela oração. Sua a vida é encontro profundo com o divino mestre Jesus. “E Teresa, a sua pessoa e a sua palavra, é oração. História, longa e profunda, de oração. Teresa não se explica sem a oração. E, possivelmente também, a oração já não é plenamente explicável sem Teresa. Oração e Teresa, Teresa e oração, evocam-se reciprocamente e fazem caminho juntas” (GARCIA: 2001 p. 18).
A partir de Santa Teresa, compreendemos a oração como dom divino. Ela é graça concedida ao homem pelo próprio Deus. É Ele quem nos convoca à oração e nos move a estar com Ele. Sendo dom, a oração também é mistério para o homem, que desde sempre está se perguntando por ela. Pergunta esta que apenas encontrará uma resposta experiencial. É na experiência que o homem descobrirá a essência da oração. A vivência oracional nos permitirá adentrar em tão grande mistério divino. Quanto menos orantes formos menos saberemos dessa realidade. “Nada se sabe da oração a partir de fora” (GARCIA: 2001 p. 19).
De outro lado, o fato de a oração ser experiência pessoal, não anula a necessidade que temos de falar sobre a mesma. “Grandíssima coisa é tratar com os que tratam disso (oração)” (TERESA, 2M 1,6). Em vários momentos Teresa de Jesus nos lembra da importância da orientação, do acompanhamento para aqueles que estão iniciando esse caminho e lembra o quanto ela mesma poderia ter avançado mais rapidamente se tivesse quem a orientasse. Quando descreve sua experiência de vida e oração lembra sempre que espera deixar algo que seja de proveito para as almas. Suas obras desejam impulsionar seus leitores à experiência oracional, estimulando-os, animando-os e direcionando-os com suas palavras.
“Teresa de Jesus é um dos maiores orantes da história. Encontram-se nelas as condições de todo autêntico magistério: recebeu abundantemente a comunicação de Deus (experiência), compreendeu quanto se lhe dava (inteligência da graça recebida) e a faculdade de comunicar (transmitir). Escreve com maravilhosa precisão: ‘Uma mercê é dar o senhor a mercê, outra entender qual é a mercê e qual a graça, outra sabê-la dizer e dar a compreender’ (TERESA, V 17,5). Recebe, entende, comunica. Três graças convergentes todas de origem carismática, que transformam Teresa em Mestra de oração” (GARCIA: 2001 p. 20). A mesma sempre lembra que toda essa comunicação é obra do Bom Deus, de sua Majestade.
A oração, para Teresa de Jesus, é simplesmente “tratar de amizade”. Amizade que não se detém apenas aos tempos de solidão com o amigo, mas que define a própria vida destes. É encontro de pessoa para pessoa. É olhar para aquele que desde toda eternidade está voltado para nós. A oração é o encontro pessoal com Aquele que sabemos que nos ama.
Mas também Teresa de Jesus encontrou dificuldades para vivenciar essa amizade com o Senhor. Para ela, era muito difícil:
·      Discorrer com o intelecto e sujeitar a imaginação: ela não tinha muita facilidade para compreender, raciocinar e falar sobre verdades da própria fé. Assim como também era distraída, não conseguia dominar a própria imaginação, usá-la para conduzi-la ao encontro com o Senhor. Mas Teresa descobre que a oração não depende do intelecto e embora ‘nem todos sejam aptos para pensar, todos o são para amar’. ‘A oração não consiste em pensar muito,mas em amar muito’;
·      Incoerência entre vida e oração: ao iniciar sua caminhada de oração, ela percebe a incoerência existente entre sua vida e os momentos a sós com o Senhor. ‘Procurava... ter oração e viver a meu bel-prazer’ (TERESA, V 16,6). Percebendo a incoerência de sua vida, ela passa a ter medo de orar: ‘Já tinha vergonha - em tão particular amizade como é tratar de oração – de me tornar a chegar a Deus’ (TERESA, V 7,1). Embora não pensasse em deixar definitivamente a oração, a mesma acabou caindo numa falsa humildade, esperando ficar mais pura para então voltar a se aproximar do Senhor. No entanto, mais tarde o Bom Deus a fez perceber o engano que se encontra nessa atitude – ‘O tempo em que estive sem ela (oração) andava muito mais perdida a minha vida’(TERESA, V 19,11) - e a mesma retoma a vida de oração, pois compreende que sem ela não poderá viver segundo a vontade do divino mestre. “A vida é sempre o termômetro da oração que existe e da oração que falta” (GARCIA: 2001 p. 39). Não existe vida coerente sem oração. E orar exige que muitas vezes a pessoa seja violenta consigo mesma, contra a própria vontade. Oração exige determinação e disciplina;
·      A falta de mestres de oração e ambiente favorável: “O enfraquecimento de uma estrutura comunitária séria, a falta de nível e ambiente de exigência, o ter de fazer, solitária e contra a corrente, o caminho de uma fidelidade entendida com clareza, foram fatores contra Teresa” (GARCIA: 2001 p. 20). “Alguma (culpa) tem que o mosteiro não esteja fundado em muita perfeição” (TERESA, V 5,1). E Teresa também lamenta a falta de diretor espiritual letrado e experiente que a acompanhasse.

Humildemente Teresa de Jesus com sua luta para ser fiel a vida de oração, mostra-nos a oração como algo possível, ao alcance de todos, mas não sem esforços, sem luta e violência contra as próprias inclinações.
Oração é encontro de dois protagonistas: Deus e o homem. São esses protagonistas que importam, entre eles se dá o diálogo que gera a vida nova, que transcende a experiência limitada do próprio ser humano. Orar é estar e/ou querer estar com Deus. Aqui vale lembrar as distrações na oração, elas não são impedimentos, não façamos caso das mesmas, porém estejamos firmes em nosso propósito de estar com Deus. “E sabe (Deus) que estas almas já desejam pensar n’Ele e amá-lo sempre” (TERESA, V 11,16). 
É Deus mesmo quem nos convida a estar com Ele e espera que correspondamos a esse chamado. Deus espera a nossa resposta de amor, a nossa correspondência a Seu amor abundante. O Senhor não é indiferente aos nossos ‘sins’ nem muito menos aos nossos ‘nãos’. Ele se alegra, regozija-se com a nossa presença. E espera de nós ao menos que desejemos corresponder ao seu amor. O próprio desejo de corresponder a tão alto amor já é oração. “A oração, como amizade, é dar gosto ao outro” (GARCIA: 2001 p. 62). Ao grande outro que é Deus.
No entanto, esse encontro pressupõe a verdade, pois nessa amizade Deus se revela ao homem e, ao mesmo tempo, o próprio homem é revelado a si mesmo. Oração é epifania, manifestação de Deus. É encontro na intimidade e interioridade do próprio homem. Como dizia São João da Cruz: ‘alma buscar-te-ás em Mim (Deus), a mim buscar-Me-ás em ti”. Nessa amizade, os protagonistas se conhecem e a verdade é revelada ao homem sobre Deus e sobre ele próprio frutifica em verdadeira humildade. Reconhece as suas fraquezas, o quanto não pode confiar em si e descobre o quanto é devedor deste Grande Amigo. E experimentando esse amor-amizade do Senhor, vai cada vez mais se sentindo amado e isto, certamente, o impulsiona também a querer e a amar verdadeiramente. Vendo o quanto Deus o ama desejará também amá-lo com todas as suas forças, mesmo que para isso tenha que renunciar a própria vontade, submetendo-a ao Amor.
Seja a nossa vida discipular um contínuo encontro com o Senhor Jesus, como foi a vida de Teresa e de tantos outros santos amigos de Deus.  E lembremos que o caminho de Teresa será sempre o dela, mas nós podemos desejar chegar aonde ela chegou. O caminho é individual, é pessoal, porém a meta é a mesma: viver na intimidade com o doce mestre Jesus Cristo.

Edilma Santos
Assistente Geral do Desenvolvimento Integral

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